Tenho por obrigação de ofício, assentar os nomes daqueles
que partem, levados por mil motivos ou sem nenhuma razão.
Sinto-me , às vezes, numa espécie de cais , donde registo as
abaladas todas, dos conhecidos e dos outros, o que me tem reforçado a noção da
precaridade da vida e despertado a consciência
do valor de cada momento.
Porque a morte é a negação do existir, a perda de alguém é
sempre dolorosa, representa um empobrecimento, donde sobrevém um sentimento estranho pelo vazio que fica, uma caverna escura
para onde somos
atirados e donde
tardamos a sair.
Mas nem todas as perdas têm o mesmo peso. Muitas são
compensadas pela sua inevitabilidade ou
também pelo fim do martírio que determinam. Outras há, que são dilacerantes,
cortam e levam consigo parte do nosso ser, arrasam na hora e diminuem para
sempre a capacidade de voltarmos a ser iguais.
Ontem , com oito anos, sem doença aparente, o Lourenço
faleceu, deixando esta terra consternada.
Para ele elevo o meu pensamento, acompanhando também a ZéZé e o Renato
na profunda dor que sentem.